O Café que Virou Peixe, por Luis Scarabel
Data de Realização: 31/10/2024 a 14/02/2025
A ideia de criar minhas obras surgiu de forma inesperada. Após acumular cápsulas de café usadas por três anos, buscando uma forma de reutilizá-las de maneira criativa, um dia avistei algo que me inspirou profundamente: no alto de uma prateleira de uma loja, encontrei um peixe esculpido em madeira, coberto por tampinhas de garrafa de refrigerante enferrujadas, abandonado e cheio de pó. A imagem desse peixe ficou na minha cabeça, e me levou a explorar como eu poderia aplicar algo semelhante com as cápsulas que havia acumulado. Percebi que este material, geralmente descartado de forma correta para reciclagem ou sem a devida conscientização, tinha um grande potencial para ser ressignificado e transformado em arte.”
A partir desse momento, comecei a pesquisar sobre as escamas dos peixes: seus formatos, como se sobrepõem, e suas funções na aerodinâmica do animal. Descobri que as escamas se organizam alternadamente em camadas, de maneira uniforme e ordenada, com cores que se misturam suavemente, criando transições naturais. Essa harmonia e o capricho da natureza me inspiraram a tentar reproduzir um efeito parecido.
Ao observar as cápsulas com mais atenção, percebi que, ao compactá-las, elas formavam chapinhas redondas, uniformes, flexíveis e coloridas, sem necessidade de acabamento adicional. Além disso, ofereciam uma grande variedade de cores, sempre com o mesmo padrão, independentemente do fabricante. Esse detalhe fez com que fossem o material perfeito para o que eu pretendia criar.
Para reunir o material necessário, conto com a ajuda de uma rede de pessoas que consomem o produto. Amigos e parentes, com carinho, reúnem as cápsulas diariamente e as entregam para mim. Às vezes, aproveito para passar pessoalmente e recolhê-las, o que me dá a oportunidade de tomar um café e passar alguns minutos convivendo com pessoas que me inspiram a continuar com o projeto. Esse gesto de apoio é fundamental, pois não adquiro as cápsulas de empresas de reciclagem, elas chegam até mim de forma espontânea e colaborativa.
Com a matéria-prima em mãos e inspirado pelo peixe que vi, decidi fazer meu primeiro desenho. Utilizando minha experiência na construção de maquetes, desenhei um peixe em Papel Paraná, um material resistente e fácil de recortar, muito usado na confecção de protótipos. Recortei o formato do peixe e criei os relevos que dariam sustentação às cápsulas compactadas, planejando cada detalhe: cabeça, corpo, rabo e nadadeiras.
Inicialmente, a ideia era que as peças ficassem suspensas por um suporte, mas, devido à limitação no número de cápsulas que eu tinha, optei por montar apenas uma face do peixe, destinada à fixação na parede. E assim nasceu a primeira peça de uma série de esculturas que fazem parte do projeto “O CAFÉ QUE VIROU PEIXE”.
“Reciclagem e reutilização sempre foram temas importantes na minha vida. Preocupo-me com o lixo que produzo, reciclo, tenho uma composteira e tento educar as pessoas a darem a correta destinação aos resíduos ou a buscarem um novo propósito aos materiais que descartam.
“Jogar fora” para mim, não existe. Fora para onde? Não existe “fora”, apenas trocamos de lugar aquilo que não nos serve mais, mas o local continua o mesmo: a nossa morada. O lixo pode sair da minha casa, pode sair de perto de mim, mas não vai sair da minha vida, do planeta.
Hoje, as cápsulas de café de alumínio que podem ser infinitamente recicladas, também ganham mais um novo sentido / propósito, desta vez nas paredes das galerias, mostrando como a reutilização criativa pode gerar expressão e interpretação artística.”
Luis Scarabel Junior
Formado em Desenho Industrial, atua com direção de arte para canais de TV, mídias impressas e digitais, além de publicidade e vídeos de branded content e educativos.
Como documentarista, dirigiu projetos ligados ao meio ambiente e à preservação.
É ilustrador e cenógrafo, com longa experiência em criação e montagem de grandes exposições nas melhores salas de São Paulo.