Apesar de a forma pura, metálica do alumínio ser encontrada com maior facilidade somente a partir da segunda metade do século XIX, os compostos de alumínio já são utilizados há milhares de anos.
Em 6000 a.C. já encontramos na Pérsia a produção de vasos e outros utensílios de cerâmica contendo alto teor de óxido de alumínio. Em 3000 a.C. os egípcios e babilônios utilizavam esse composto para a produção de medicamentos, cosméticos e tingimento de tecidos.
O sulfato de alumínio já era conhecido há 4000 anos como um sal utilizado para fixar corantes em tecidos. O alúmen era utilizado como mordente pelos egípcios. Também os gregos e romanos exploravam suas propriedades adstringentes para fins medicinais
Desde a antiguidade os compostos de alumínio eram empregados para diferentes utilidades. Hoje, suas aplicações cresceram ainda mais e são encontrados em vários segmentos, como na indústria têxtil para o tingimento de tecidos, na farmacêutica para produção de medicamentos, também são utilizados no tratamento da água potável, na produção de produtos de higiene, refratários, entre inúmeras outras aplicações.
Foi no século XIX que se ampliam as pesquisas e experimentos para a obtenção do alumínio por meio de processos eletroquímicos. Até meados do século, o alumínio era considerado um metal precioso, ainda mais valioso que a prata e o ouro. Antes do desenvolvimento dos processos eletrolíticos que possibilitaram a produção em escala industrial, o alumínio era um metal extremamente raro utilizado como joia preciosa pela nobreza. Há relatos de que Napoleão III possuía objetos e peças preciosas feitas em alumínio.
Em 18071, o químico britânico Humphry Davy (1778-1829) realizou experimentos buscando isolar o alumínio a partir do óxido de alumínio, hoje conhecido como alumina. Ele estava convencido de que poderia obter metal a partir deste composto e foi, até onde nos consta, o primeiro a obter o que mais se aproximava do alumínio, fundindo ferro na presença de alumina. Embora Davy não tenha conseguido isolar o alumínio metálico, ele propôs o nome de Aluminium para o metal que pretendia desenvolver, mas que ainda não tinha descoberto.
Em 1821, a bauxita, principal minério do alumínio é identificada pela primeira vez pelo geólogo e mineralogista francês, Pierre Berthier (1782-1861). Berthier identifica o minério em Les Baux-de-Provance, no sul da França, de onde deriva o nome bauxita.
Em 1825, o físico e químico dinamarquês Hans Christian Ørsted (1777-1851) estudando a ação da corrente elétrica e realizando experimentos consegue isolar o alumínio a partir do cloreto de alumínio. O metal obtido ainda possuía algumas impurezas
Em 1827, o químico alemão Friedrich Wöhler (1800-1882) fazendo reagir cloreto de alumínio com potássio metálico, baseando-se no método anteriormente desenvolvido por Hans Christian Ørsted, consegue obter uma forma suficientemente pura de alumínio. Contudo, sua produção em larga escala permanecia bastante dispendiosa.
Em 1855, o químico francês Henri Sainte-Claire Deville (1818-1881) conhecido por seus trabalhos sobre o alumínio, apresenta na Exposição Universal de Paris, um lingote de alumínio. Com seus experimentos ele desenvolve e divulga melhorias nos processos para a obtenção do metal.
Louis Toussaint Héroult
(1863-1914) |
Charles Martin Hall
(1863-1914) |
Em 1886, o cientista francês Paul Louis Toussaint Héroult (1863-1914) desenvolve separadamente, mas, praticamente de forma simultânea ao químico norte americano e um dos fundadores da Alcoa, Charles Martin Hall (1863-1914) o processo de obtenção de alumínio por meio da redução eletrolítica da alumina dissolvida em banho fundido de criolita. O processo ficou conhecido como Hall-Héroult por ter sido descoberto e patenteado concomitantemente pelos dois cientistas. A partir de então, simplificou-se a produção do metal, tornando-a menos onerosa e permitindo, desse modo, o estabelecimento da indústria global do alumínio.
Em 1888, o químico austríaco Carl Josef Bayer (1847-1904) desenvolve o processo Bayer facilitando a produção de óxido de alumínio, a Alumina, a partir da bauxita. Esse procedimento juntamente com o processo Hall-Héroult possibilitou o avanço e o desenvolvimento da produção do alumínio em escala industrial. Nesse processo a bauxita é refinada para a produção de alumina, principal composto químico utilizado na produção do alumínio.
Na virada do século XIX o alumínio, metal ainda recém-descoberto, passou a ser utilizado de inúmeras formas. Começou a ser empregado pela primeira vez na produção de barcos2, nos vagões de trens em ferrovias3, nos utensílios e nos automóveis.4
Também no final do século XIX o alumínio é encontrado nas artes visuais. Em 1893, o escultor inglês Alfred Gilbert (1854-1934) realiza a escultura, conhecida como Eros, para a Shaftesbury Memorial Fountain, em Piccadily Circus, Londres. A obra é considerada a primeira escultura moldada em alumínio no mundo. O artista se interessava pela metalurgia e integrou o movimento conhecido como New Sculpture no final do século XIX.
No século XX a indústria do alumínio vive um intenso crescimento após o desenvolvimento dos processos eletrolíticos para a obtenção do metal em meados do século anterior. As indústrias de alumínio começaram a trabalhar para a produção de ligas de alumínio, explorando novas possibilidades para o metal. Nesse momento observa-se o aprimoramento das pesquisas voltadas à metalurgia assim como o surgimento e o crescimento de indústrias voltadas à produção do alumínio. A necessidade de fabricar produtos mais leves e resistentes impulsionou a indústria do alumínio durante a primeira guerra mundial (1914-1918) e, desde então, tem ocupado uma posição mundial altamente estratégica ao suprir com o metal praticamente todos os setores da economia5.
Já em 1903, Wilbur e Orville Wright desenvolvem um motor de avião com peças de alumínio para torná-lo mais leve6. Com as guerras mundiais intensificam-se as pesquisas para a aplicação do alumínio na produção de aviões, barcos e outras máquinas. Novas ligas e processos para a produção de alumínio são desenvolvidos.
Cresce também, logo no início do século, o emprego do alumínio em carros e no transporte público que se fortalece conforme o desenvolvimento de novas tecnologias. Nos anos 1960, o alumínio já era encontrado em carros de corrida, utilizado para conferir maior leveza e velocidade aos veículos7.
Em 1910 a folha de alumínio começa a ser comercializado pela empresa Dr. Lauber, Neher & Cie, na Suíça, e no ano seguinte é utilizado como embalagem de chocolate8. A partir de então, o papel de alumínio passa a ser cada vez mais empregado na indústria de embalagens. No final dos anos 1950 a lata de alumínio é criada, impulsionando o mercado de embalagens e substituindo a folha de flandres.
Também desde o início do século, observa-se o desenvolvimento de processos para a recuperação do metal a partir da reciclagem. Entretanto, foi a partir da década de 1960 e, sobretudo, na década de 1980 que a reciclagem ganha força com o aumento da prática pelas indústrias e o crescimento dos debates envolvendo as questões ambientais.
A partir da década de 1930 acentua-se o uso do alumínio na construção civil. Um exemplo nesse sentido é a construção, em 1931, do Empire State Building, em Nova York, que possui alumínio em suas estruturas básicas e também em seu interior, sendo o metal uma característica marcante de sua arquitetura.
No âmbito da indústria aeroespacial o alumínio ajuda impulsionar as pesquisas e desenvolver tecnologias. Em 1957, a URSS lança o Sputinik, satélite artificial em órbita, que possuía alumínio como um material significativo em sua composição.
No decorrer do século XX, o uso do alumínio cresce e ele se torna um dos o símbolos de modernidade e futuro. O metal passa a ser empregado em diversos bens de consumo tais como artigos esportivos, bicicletas, produtos da linha branca e eletrodomésticos.
O alumínio no século XX encontra definitivamente seu lugar na expressão cultural e passa a ser mais explorado por designers, arquitetos e artistas para a criação de suas obras, adentrando o universo da arte e cultura.
As aplicações e as pesquisas sobre o alumínio estão crescendo cada vez mais, tornando-o, atualmente um dos metais mais conhecidos e utilizados em praticamente todos os segmentos industriais. Seu emprego em diferentes áreas deve-se, sobretudo, à versatilidade conferida por algumas de suas propriedades tais como: leveza, resistência à corrosão, condutibilidade elétrica e térmica, refletividade, ductilidade, impermeabilidade. Assim, atualmente é encontrado na produção de embalagens e utensílios domésticos, na indústria de transportes, bens de consumo, na construção civil, na produção de eletricidade, nos ramos da eletrônica. O emprego do alumínio é vasto e, hoje, colabora para o aprimoramento e para o surgimento de novas tecnologias e produtos também nos setores que obtiveram grande crescimento no século XXI como o da informática, o aeroespacial, o da robótica, da ciência e da telecomunicação.
Uma característica significativa do alumínio é que ele é 100% reciclável, sem perder suas propriedades durante o processo. A refundição do alumínio requer bem menos energia do que para sua produção primária. Desde o final do século XX a prática de reciclagem vivencia grande crescimento e integra as discussões e debates sobre o meio ambiente e a sustentabilidade.
Também no universo da cultura e das artes visuais o uso do alumínio se estendeu. Com as novas tecnologias e produtos desenvolvidos em alumínio, designers, arquitetos e artistas têm utilizado o metal para suas criações. O alumínio integra a produção de móveis e objetos de design. Também é recorrente na construção civil e utilizado por arquitetos nas fachadas e no interior dos edifícios. Nas artes visuais é explorado de diversas maneiras, sendo encontrado desde esculturas, relevos e gravuras como, ainda, em instalações, em performances, como suporte na impressão de fotografias, entre outras possibilidades.
O alumínio tem sido nos últimos anos alvo de exposições que buscam resgatar sua história, sua tecnologia e apresentar suas possibilidades e ligações com a cultura e as artes.
No Brasil, em 2017, é inaugurado o Centro Cultural do Alumínio, sob a chancela da Associação Brasileira do Alumínio- ABAL, que desde a abertura realiza eventos e exposições, incentivando diálogos e discussões sobre as diversas facetas e possibilidades do alumínio.
1As fontes divergem com relação a essa data apresentando variações entre 1806-1810. A grande maioria das fontes aponta a data 1807.
2Há relatos de que o Le Migron foi o primeiro barco de passageiros a utilizar um casco de alumínio na Suíça em 1891. Três anos depois foi construído o Sokol, um barco torpedeiro feito de alumínio para a Marinha do Império Russo.
Fonte: https://www.aluminiumleader.com/history/industry_history/
3Em 1894 a companhia ferroviária americana começou a produzir vagões com assentos de alumínio.
Fonte: https://www.aluminiumleader.com/history/industry_history/
4No final do século XIX, o primeiro carro esportivo com corpo feito de alumínio foi apresentado no Salão Internacional do Automóvel de Berlim em 1899.
5FONTE: http://abal.org.br/aluminio/historia-da-industria-do-aluminio/historia-da-industria-no-mundo/
6FONTE: https://aluminiumleader.com/history/timeline/#1903 e https://www.sciencehistory.org/distillations/magazine/aluminum-common-metal-uncommon-past
7FONTE: https://aluminiumleader.com/history/timeline/#1962
8FONTE: https://www.aluminiumleader.com/history/industry_history/
9Como exemplo, em 2000, ocorreu a exposição Sheen of Silver, Weight of Air, no Schneider Museum of Art, na Southern Oregon University que tinha como foco a arte contemporânea em alumínio e em 2001, foi exibida a exposição Aluminum by Design: From Jewellery to Jets, patrocinada pela Alcoa Foundation e realizada pelo Carnegie Museum of Art ,em Pittsburgh, EUA, sobre a história e objetos de alumínio